Sobre a vontade, rotinas, quebras e aceitação

Um armário recheado de vontade, de rotina, de quebras e da aceitação, da certeza que todas juntas fazem uma vida só. 

É fácil quando sem dificuldade o dia corre, quando se faz o que se tem que fazer com um sorriso na cara e com os braços inquietos. É fácil e maravilhoso, enche-me de esperança, uma esperança que não quero deixar de ter. 

Mas e quando há uma quebra nessa vontade, nessas rotinas? Aí entra a força da aceitação. 

A força da aceitação não é mais do que escutar atentamente o coração e perceber que o caminho para o seguir nem sempre é a direito.

E quão maravilhosos são os novos caminhos?! Constato nas minhas crianças a felicidade e a excitação que os assola quando ao caminhar na floresta se deparam com uma vereda que nunca trilharam. Quero ser como elas, quero estar aberta aos novos caminhos que vão aparecendo para que vá de encontro ao chamamento do meu coração.

Quero ser como elas e não como os adultos que todos os dias me lembram de que tenho que saber o que quero e trilhar esse caminho reto, sem olhar para os lados nem sequer descansar um pouco debaixo de um carvalho sombroso. Não quero ser essa adulta, mas sou, sou todas as vozes que me questionam sobre o meu caminho. Como acolhê-las continuando esperançosa?

Aceitando. Aceitando que só porque hoje ao acordar não tenho o mesmo entusiasmo que ontem ao deitar, isso não significa que me estou a desviar do meu caminho ou que sou mais fraca e incompetente na minha própria vida. 

A rotina é importante porque ajuda a manter o ritmo. A rotina é uma espécie de compromisso que fazemos com a vida. A maior parte de nós aprendeu essa rotina na escola e mais tarde adquire a rotina do seu trabalho. Nas duas formas são-nos impostos horários e vontades externas a nós e aquilo que fazemos é cumpri-las. Na escola cumprimos porque senão vamos chumbar de ano e no trabalho cumprimos senão somos despedidas/os. 

 

 

Quando não estamos em nenhum desses modos ( escola ou trabalho ), facilmente quebramos as rotinas e nos vemos embrenhados numa bruma de ócio. A príncipio pode parecer maravilhoso, porque não temos que obedecer a nada mas facilmente essa ”rotina sem rotina” se pode transformar numa forma subtil de fugirmos ao maior compromisso que temos nesta vida, o compromisso connosco e com a Vida. 

As crianças, as plantas, os animais e tudo aquilo que exige de nós um cuidado diário ( para além do cuidado a nós próprios, pois esse como já vimos, é muito fácil de descuidar ) são uma re-ligação a esse compromisso com a vida. 

Ao cuidarmos somos também presenteados, como acontece com o leite que as cabras nos dão diariamente.

Porque é que é mais fácil cumprir um horário imposto do que nos mantermos na senda do nosso coração e levarmos avante aquilo em que acreditamos?

É mais fácil porque foi aquilo que nos foi gravado na alma, foi para isso que nos educaram. Mas peguemos naquilo que nos foi ensinado e metamorfoseemos em compromisso com a Vida e com o coração. 

A constância levar-nos-á a bom porto, acredito plenamente, mas até que ponto a constância que nos foi inculcada é real? 

O que questiono aqui é o facto de que é-nos pedida uma constância sem primeiro termos a oportunidade de explorar devidamente, sem primeiro termos aberto várias portas para saber qual aquela em que queremos entrar verdadeiramente. 

Sigo o caminho que escolhi e não quero viver na ilusão de que ele não tem nada para me ensinar e de que é só andar, andar, andar até chegar ao outro lado. No entanto, mantenho-me constante nessa busca e no caminhar abraçando a rotina que me manterá na senda.

Observando a ciclicidade da Natureza Selvagem… Aceitamos as 4 estações, o dia a noite, o calor e o frio, o nascimento e a morte ( esta com mais dificuldade ) sem questionar e tendo fé de que nos levará onde temos que estar. 

Cultivo todos os dias a fé em mim, nos meus processos, porque eu sou a Natureza também e Ela é a minha guia suprema.  Tentando manter sempre o Norte, agarrando-me ao compromisso da rotina que é a que me foi dada mas também a que escolho todos os dias.

Um destes dias, recolhendo-me para me conectar com a Divindade, foi isso tão claro para mim. 

Ao pedir uma direcção e ao invocar os elementos, a Mãe Terra, e todas as referências do divino com as quais cresci, percebi no corpo todo que só posso esperar a ajuda de todas e de todos esses seres porque eu sou eles e elas e elas são eu, caminhamos para o mesmo lugar porque não estamos nunca separadas e separados. 

Aproveito também estes últimos ares de Verão e os ventos novos do Outono para recolher algumas plantas e conservá-las para os tempos vindouros, a beldroega é uma delas. Planta super-poderosa ( como todas ), através da sua conserva em vinagre teremos uma fonte incrível de vitamina C para o Inverno!

Se virem beldroegas (portulaca olearacea) façam uma salada ou então este vinagre. Para além de saborosa é muito nutritiva. 

Talvez tenham algum receio em identificar plantas e muita vontade em conseguir, fica o convite para a próxima caminhada que facilitarei, dia 15 de Outubro no Marco de Canaveses na Quinta do Louredo. A caminhada é parte integrante dum mercado de produtores/artesãos/artistas locais. Estaremos lá para a caminhada mas também com uma banca a vender os nossos produtos da quinta e remédios herbais. 

O mercado vai acontecer nesta morada : Quinta de Louredo, s/n, Freixo, Marco de Canaveses, Portugal

Podem saber mais sobre este evento nas redes sociais da Quinta de Louredo, ou podem entrar diretamente em contacto comigo pelo e-mail : geral@floresceres.com 

(o cartaz é da autoria da Sara Joana)

Abraços quentinhos, 

Alice Montanha

One thought on “Sobre a vontade, rotinas, quebras e aceitação

  1. Olá Alice. Aqui estou estou eu, a subscrever o meu e-mail, para que quando houver partilhas e novidades eu não perca uma 😊. Plantas e medicina natural também é um dos meus fascínios por isso é sempre bom estar em contacto com pessoas que me inspiram ainda mais neste caminho de comunhão com a natureza. Beijinho

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