A Cura de Primavera ou A Primavera Cura-nos (?)

Podemos dizer agora que a Primavera se instalou, pelo menos aqui no Norte de Portugal. Já cheira a Primavera, o calor já se vai fazendo sentir e as flores abundam nos nossos campos.

A Primavera é a estação do renascimento e da fertilidade.

As tradições milenares têm vindo a falar-nos disto, seja em forma de mitos ou de rituais.

A Cura de Primavera é uma tradição muito antiga, que tem vindo a cair em desuso mas que continua com o mesmo sentido do que antigamente.

Tal como no Inverno a seiva e as resinas das árvores endurece e solidifica o mesmo acontece com o nosso fluxo interno, a Primavera aquece-nos e obriga mesmo a que esse fluxo se mova dando origem muitas vezes a desconfortos associados à chegada da Primavera, como as alergias que são muito comuns.

A Natureza pede-nos para florescermos e também nos dá as ferramentas para que o façamos da melhor forma.

Para além da alimentação, as plantas medicinais também podem ser uma excelente ajuda neste processo de desintoxicação e renascimento.

O fígado

O fígado é o órgão mais importante associado à desintoxicação. É no fígado que todas as toxinas são processadas, o álcool, os medicamentos e as drogas e até as hormonas de stress que vamos acumulando.

Um fígado sobrecarregado traduz-se em diversas maleitas, desde o aumento de peso, problemas de pele, prisão de ventre, retenção de água e muito mais.

Uma dieta equilibrada e o uso de plantas que têm grande afinidade com o fígado podem ser uma forma eficaz de ajudar a que este órgão funcione corretamente.

A pele e o sistema linfático

Depois do fígado a pele e o sistema linfático são os órgãos mais importantes associados à função de desintoxicação.

Banhos quentes, exfoliação corporal a seco e o uso de plantas medicinais fazem parte das boas práticas de desintoxicação destes órgãos.

As ”plantas da Primavera”

  Basta darmos uma volta pelo jardim da cidade, pelo quintal ou pela montanha ( onde quer que haja terra ) para vermos várias plantas que nos são úteis para este processo, a conhecida Cura de Primavera. A maior parte delas conhecemos como ervas daninhas e ocupamos bastante tempo a tentar livrar-nos delas.

  É só preciso estar atento e ver que agora começam as guerras às ervas, bermas da estrada que de um dia para o outro passam de verdejantes a amarelas, as vinhas que magicamente amarelecem mesmo nos pés das videiras, o sal no meio dos paralelos. O pânico para a maioria das pessoas. Acredito sinceramente que soubessem que estão a destruir plantas MEDICINAIS talvez mudassem de atitude, o que me cabe a mim fazer é apenas partilhar, seja através destes escritos ou das caminhadas guiadas de identificação.

  No herbalismo, os usos das plantas dividem-se em vários nomes segundo as suas características e propriedades. Para a Cura de Primavera os grupos de plantas com uso mais importante são as alterativas ( purificadoras do sangue ), as amargas ( tradução livre do inglês bitter ) e as ervas hepáticas.

  Uma pequena introdução a cada uma destas categorias:

  As alterativas ( purificadoras do sangue ) são plantas com valor nutricional e que ajudam o corpo no processo da desintoxicação. Algumas plantas portuguesas espontâneas que fazem parte desta categoria são:

Urtiga ( urtica dioica ) folhas

Dente-de-leão ( taraxacum officinale ) folhas e raízes

Labaças ( rumex crispus ) raízes

Morugem ( stellaria media ) partes aéreas

Amor-de-hortelão ( gallium aparine ) partes aéreas

Plantago ( plantago sp. ) folhas

Trevo ( trifolium pratense ) partes aéreas

Violetas ( viola odorata ) partes aéreas

Verbena ( verbena officinalis ) partes aéreas

As ervas amargas

Como a própria designação indica, são ervas de sabor amargo. O sabor amargo é um estimulante do sistema digestivo aumentando as suas secreções. Também são adstringentes e por isso apertam e tonificam os tecidos do intestino. Podem ajudar em problemas de prisão de ventre, gases ou digestão lenta. É muito importante que o sabor seja sentido na boca, tomar cápsulas destas plantas não é tão eficaz como coloca-las na salada, fazer uma tintura ou uma infusão.

Algumas plantas portuguesas espontâneas que fazem parte desta categoria são:

Dente-de-leão (taraxacum officinale ) folhas e raíz

Serralha ( sonchus olearacea ) folhas e raíz

Leituga ( hypochaeris radicata ) folhas e raíz

Cardo ( silybum mariano ) folhas e raíz

As plantas hepáticas

Dente-de-leão ( taraxacum officinale ) raíz

Cardo ( silybum mariano ) raíz

Labaça ( rumex crispus ) raiz

Calendula ( calêndula arvensis ) parte aérea

Camomila romana ( chamaemelum nobilis ) parte aérea

ENTÃO E O QUE FAZER ?

  Algumas destas plantas podem ser introduzidas na nossa alimentação como por exemplo a morugem e as flores de dente-de-leão que dão óptimas saladas para acompanhar os pratos principais.

  A urtiga é uma planta muito versátil que pode ser utilizada em sopas, esparregados, batidos e até transformada em farinha para incorporar na doçaria ( doçaria saudável, claro ).

  O amor-de-hortelão dá um esparregado muito bom também.

  O resto das plantas mencionadas, ou por serem bastante duras (as raízes) ou por terem um sabor mais amargo, são mais palatáveis em infusões, decocções, tinturas, oxyméis, cápsulas ou pastilhas.

  Partilhei aqui muitos nomes, alguns mais conhecidos e outros menos, mas não precisamos de saber e conhecer todas estas plantas de uma vez só para que a Cura de Primavera se dê!

  O caminho das ervas é um caminho de lentidão, é preciso conhecer bem cada uma, experimentar, provar e percebermos qual a relação do nosso organismo com a planta escolhida.

  Se introduzirmos uma destas plantas no nosso dia-a-dia já temos meio caminho andado para dar uma ajudinha ao organismo em processo de desintoxicação.

  Para aprender a identificar estas plantas podes juntar-te a mim numa das muitas datas de caminhadas de identificação de plantas espontâneas que vou realizar esta Primavera.

Clica aqui para saberes mais sobre estes eventos.